terça-feira, 23 de abril de 2013

"Na manhã que o amor acabou (...) Os imperativos simples e práticos de verbos serviçais burlavam dores pessoais de pronomes (...)
Foram duas lágrimas. A primeira despencou rapidamente, como um suicida magrinho e sem talento. A segunda ficou um tempo ninada pelas bordas até que caiu já quase seca nem passando da metade do rosto. O sofrimento foi tão ralo que sequer alcançou o nariz. Fiquei com preguiça de alguma saudade surpresa crescer escondida e me apunhalar em brechas de fraqueza e carinho, mas ela nunca apareceu e agora, se chegasse, seria só uma fantasia bordada de última hora pelo tédio. Na manhã que o amor acabou, eu cismei que probióticos me protegem de não pegar gripe e que pego gripe sempre que o amor acaba. Me enchi de iogurte e isso me mostrou uma novidade em ver um amor acabando: era momento de adorar cabisbaixa uma história mas eu estava mais ocupada em me lançar cuidadosa aos dias que nem existiam(...)
E só porque o cinismo nos dá gosto também pelo jogo do tudo a mesma merda (...) a vida seguiu tão normalzinha, (que) Ficou a suspeita de um espasmo de vício humilhado pela desimportância do costume". Trechos de Tati Bernardi

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